(...) De
estalagmite em estalagmite, descemos o declive e após uma última escorregada num
cone de poeira, chegamos ao leito do rio. Aqui, nenhum impedimento para
continuar em direção à nascente ou à foz. Não deixo de dar os conselhos. "Méca,
atenção, quando chegar assim numa galeria fácil, coloque algumas pedras, umas
sobre as outras, ou, marque uma estalactite, para ter um ponto de referência ao
retornar." Méca concorda e partimos em direção à nascente. A galeria é larga, a
água magnificamente clara; por trás das cortinas que descem até o solo
presumem-se vastos espaços desconhecidos e adiante é também escuro, porém o rio
livre. Demos incontestavelmente com alguma coisa muito grande. É preciso
procurar Caille e Audino e nossas mochilas que ficaram na "picada". Dou bons
conselhos, mas eu mesmo não prestei muita atenção ao lugar exato onde era
preciso subir de novo. Eu procuro estão, divisar uma estalactite marcada e a
encontro logo. Ela apresenta uma indicação gravada à faca. "Meca 1964". Sem nada
dizer eu paro e deixo os dois outros, para ver se sozinhos eles seriam capazes
de reencontrar o caminho. Sem tropeçar, Philippe e Méca passam sem parar diante
da estalactite. "Méca, de que adianta marcar as estalactites se você nem mesmo
as olha quando volta?" Méca me olha, espantado: "A estalactite que eu marquei
está lá, acima daquela rocha". "- E agora, Méca 1964, não é você?" Méca olha,
depois pula sobre mim, eufórico, me agarra pelos ombros e a moda brasileira, me
dá grandes tapas nas costas e um vigoroso abraço. "Fantástico, Michel! Nós
estamos na Tapagem. Esta inscrição, não é de hoje, eu a fiz, mas na primavera,
quando nós viemos a esta gruta pela primeira vez"! Philippe demonstra sua
alegria com um formidável grito que faz tremer a gruta. Eu não sou expansivo:
sentei, sorri somente. A emoção me deu um pequeno arrepio nas costas. (...)
Entretanto nos resta um caminho a percorrer, e nenhum barco nos espera à beira
dos lagos! É preciso passar a nado, mesmo os trinta metros do "Canal de Veneza".
Que pena não ter um fotógrafo para registrar a imagem destes cinco capacetes
espirrando suas longas chamas, alinhados um atrás do outro sobre o espelho
d'água! Tremendo de frio, continuamos, passamos ainda o pequeno lago de lama e
reencontramos logo a pelota de fios embaraçados do grupo Aranhas. Quando
atingimos a boca da caverna, ainda era dia. A luz azul rasante se reflete ainda
no espelho d'água. Ainda bem molhados, corremos até a casa de Domingos, muito
admirado de nos ver já de volta. E, em grande pompa, registramos no livro dos
visitantes nossa aventura: "Hoje, 28 de novembro de 1964, primeira travessia da
Caverna do Diabo". "Tendo entrado às 10 horas da manhã pela gruta das Ostras, os
exploradores: Michel Le Bret, Philippe Goethals, Caille Goethals, Luiz Guilherme
Assumpção (Méca), Sérgio Audino, saíram novamente, às 18 horas, pela gruta da
Tapagem".
("A Caverna do Diabo", trecho do livro Maravilhoso Brasil Subterrâneo de Michel
Le Bret)